Octogenária , minha avó,
fraca e velhinha, branquinha
com os tristes desenganos,
orgulha-se dos oitenta anos,
entre carinhos humanos.
Foi muita a sua canseira.
Sua amiga, é a cadeira
onde dormita, onde cochita,
dia e noite, na hora certeira
todo o cansaço da lida.
Os netos são a saída
da melancolia da vida.
Entram de roldão na sala,
ela distrai-se e fala.
Eles gritam, pulam
dançam, gesticulam.
Seus olhos se transfiguram.
Desperta, vai sorrindo,
a qualquer travessura.
A cena evoluindo, perdura
o barulho vai-se ouvindo,
dentre tanta diabrura.
Agora, outra criatura,
a avó esquece sua dor.
Chama os netos queridos,
entre beijos estremecidos.
Num laço de ternura,
enlaça-os com amor
com afecto e candor.
.
Para os acalmar, usa a memória.
e conta-lhes uma história...
e mais outra a recordar.
E cada neto, ó que desdita,
no colo da avó, já dormita,
entre ânsias de sonhar.
As travessuras esquecem
nas carícias embaladas.
As mãos da avó adormecem
sobre as cabecinhas cansadas.
.
Maria do Rosário Guerra
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