domingo, 8 de agosto de 2010

UMA ANEDOTA DE SOUSA MARTINS

Por ocasião da morte de Sousa Martins, em 1807, Fernando Costa que escrevia nessa época para o "Comércio do Porto" as suas revistas políticas, consagrou uma delas à memória do ilustre homem de setenta, então falecido. E são dessa revista em Agosto de 24 do dito ano, os trechos que aqui se transcrevem:
" Que deliciosas e descuidadas conversas de então! Que sede de episódios, relembrados depois de toda a vida e que são como que elos da cadeia constituida pelos diversos períodos desta!

"Quantas vezes nos recordou, pelo tempo fora, provocando-nos sempre um riso são e muitas vezes comentários novosuima anedota daquele tempo. profundamente característica!

"Havia na farmácia do tio Lázaro (PHARMÁCIA ULTRAMARINA À MOEDA) um praticante dos seus 14, 15 anos, que era discípulo de Sousa Martins, numa explicação de física, química e ciências naturais que este dava às tardes de alguns dias da semana, no Colégio Nossa Senhora da Conceição, a Santos-o- Velho.
Um dia o rapaz abeirou-se do seu explicador na farmácia em ocasião que lhe pareceu propícia para a resposta favorável que desejava e disse-lhe tomando coragem:
-Eu tinha um favor a pedir ao senhor Sousa Martins!
-Peça lá e depressa que tenho muito que fazer!
. É que eu tinha muita vontade de ser materialista e queria que o senhor Sousa Martins me indicasse os livros por onde hei-de estudar!
Quando à tarde o doutor Sousa Martins nos contou este caso, em presença do futuro aprendiz de materialismo, para ver se compreendia a asneira do que pedira, as gargalhadas dos presentes foram verdadeiramente huméricas.
Mais tarde, depois disto, assistia num auditório sobre uma prelecção que versava sobre materialismo onde o prelector combatia as tendências espiritualistas, não tanto com a solidez dos seus argumentos como, principalmente com os dardos da sua ironia e os sorrisos do seu desdem. A meio da palestra, Sousa Martins disse:
Este é como o outro da botica. Aprendeu para materialista também.
O que o doutor Sousa não via, ou fingia não ver, eram as tendências materialistas que ele criava nos seus alunos .Este prelector fora seu aluno também.

Sem comentários:

Enviar um comentário